sábado, 23 de maio de 2020

Combater a agenda antidemocrática (e não se deixar enredar em suas tramas)
Alexandre Fernandez Vaz
Imagem de destaque: Antonio Cruz / Agência Brasil

Jamais pensei que viveria para testemunhar uma manifestação pública de apoio a um presidente da república em que os participantes entoassem, além das costumeiras odes ao autoritarismo, cânticos em defesa de um medicamento. Em um país com formação escolar tão deficitária, não deixa de chamar a atenção que se grite por uma droga como solução para uma doença. Ou, ao contrário, talvez seja justamente esse défice que ajude a entender tal fenômeno. Que uma droga e sua administração contra um vírus pandêmico sejam elevadas (ou rebaixadas, neste caso) à disputa política, é mostra que o ambiente de debate entre projetos antagonistas se esfarelou a ponto de não se reconhecer a democracia como pedra angular da vida contemporânea. Ou seja, a democracia, para muitos de nós, é apenas uma opção, nem sempre a melhor porque afeita à desordem e à confusão. Que as Forças Armadas venham a público semana atrás de semana para dizer que não haverá golpe é, além de assustador, mostra cabal de que a herança ditatorial nunca foi desfeita.

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