sábado, 15 de setembro de 2018

Futebol: aprendendo sobre a morte
Alexandre Fernandez Vaz


Uma das marcantes recordações de minha infância é a dos jogos escutados no rádio do carro de meu pai, em tardes de domingo. A narração era de Fiori Giliotte, com seu português correto e bem pronunciado, e a abordagem teatral que lhe fazia dizer, ao iniciar-se a peleja, “Abrem-se as cortinas e começa o espetáculo”. Uma vez, no segundo tempo de uma partida pelo Campeonato Paulista, na medida em que o jogo ia chegando a seu epílogo e o resultado parecia se consolidar, sentia algo melancólico que vinha da voz do locutor, ainda que permanecesse o desejo (e o temor) de que algo acontecesse e modificasse o destino da partida. Para quem torcia para um time que costumava não ser campeão, como era o meu caso, a experiência de ouvir e imaginar o que acontecia em campo era fascinante e também geradora de um tanto de frustração. É possível que certa melancolia se instalasse em mim também porque enquanto a partida se concluía, o dia de escola logo cedo, o seguinte, já se anunciava.

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